E TUDO O VENTO LEVOU

 

 

 

 

A construção atravessa o momento mais difícil de todos os tempos.

 

As britadeiras já só produzem quantidades residuais de fragmentos de granito, para não deixarem colar as engrenagens metálicas do sistema.

 

As centrais de betão deixam amontoar os silos de inertes, e reduzem à insignificância a aquisição de ligantes de cimento.

 

Por arrastamento, a arquitectura e as áreas das engenharias afins, passaram a ter um ritmo de actividade acomodado à sonolência, e um consumo de energias racionado à poupança com gastos controlados.

 

Quando a arquitectura passava a ser chamada para reconstruir o rosto da paisagem: ordenando, reabilitando, adaptando, tudo ficou assombrado, pela crise e pela troika, esperando melhores dias e vontades mais expressas.

 

A paisagem que tanto carecia de cirurgia estética, limita-se apenas à utilização de maquilhagem de disfarce, envelhecendo com as imperfeições encobertas, e caminhando para um estádio de maturidade que já mais se compadece com intervenções de que tanto precisava.

 

As gentes do leme cometeram o erro. A crise comprometeu a reanimação. E a extemporaneidade a presença das marcas do presente, num legado ao futuro, do património da democracia urbana cheia de ensaios e enredos, na maior parte das vezes mal disfarçados, e duradouros para a perenidade.

 

 

 

                                                                                              Março de 2013